Os últimos anos têm sido marcados por um aumento da discussão pública de temas relacionados com a alimentação. Jornais, revistas e redes sociais invadem-nos todos os dias com informação vinda das mais variadas fontes. O glúten, até então desconhecido da grande maioria da população, deixou de ser preocupação apenas dos portadores de doença celíaca para a sua ausência num alimento ser usada como ferramenta de marketing utilizada pela indústria alimentar para aumentar a venda dos seus produtos. A discussão sobre o glúten tem tomado proporções desajustadas e muita confusão de informação que não tem resultado em melhor conhecimento.


O glúten é uma proteína que se encontra naturalmente em alguns cereais como o trigo, centeio, cevada. Encontramo-lo em:

  • Pão
  • Massas
  • Bolachas
  • Bolos, biscoitos e outros produtos de pastelaria
  • Como aditivo, para melhorar muitas receitas desde molhos, refeições prontas, etc.

Esta proteína é composta por diferentes frações, as glutaminas e as prolaminas. Como todas as proteínas o glúten para ser absorvido corretamente deveria ser digerido por enzimas geralmente até à forma de aminoácido para poder passar na barreira intestinal e seguir o seu curso normal até ao fígado e posteriormente circulação geral. As nossas enzimas têm dificuldade em degradar estas proteínas resultando fragmentos de dimensões demasiado grandes (dipeptidos). No entanto estes dipeptidos conseguem passar a barreira intestinal também com a ajuda de uma outra proteína do glúten (gliadina) que facilita que moléculas grandes passam esta barreira.

Os doentes celíacos reagem de forma muito agressiva com o sistema imunitário a responder exacerbadamente criando lesões graves nas paredes intestinais que levam a dificuldade de absorção de outros nutrientes e consequente perda de peso, desnutrição, irritabilidade, depressão e diarreias frequentes. Estima-se que 1% da população mundial é celíaca, em Portugal apenas estão diagnosticados 10 mil casos, sendo que se acredita que existem ainda milhares de casos por diagnosticar. Para além da doença celíaca o aumento da permeabilidade intestinal devido à ação da gliadina e a passagem de moléculas de grandes dimensões na barreira intestinal, pode fazer com que, em indivíduos suscetíveis, exista uma resposta inflamatória associada e sintomas como desconforto abdominal, diarreia, gases, dores de cabeça e letargia (sensibilidade não celíaca ao glúten). Esta última hipótese ainda está em estudo e é necessário clarificar os marcadores clínicos que permitam um correto diagnóstico e compreensão das consequências desta resposta.

Sabe-se que pessoas com algumas doenças como síndrome de intestino irritável, e outras doenças autoimunes que não a doença celíaca, como a artrite reumatoide e diabetes tipo I parecem beneficiar de uma dieta sem glúten com a diminuição de alguns sintomas destas doenças.

Concluindo, devemos deixar de comer alimentos com glúten? Depende! (os bons nutricionistas adoram esta palavra irritante e desanimadora para alguns). Quando existe sintomatologia clinica e subclínica que sugira uma sensibilidade ao glúten, quando exista outra doença instalada que clinicamente esteja associadas a este problema, pode fazer sentido retirar estes alimentos da dieta.

No entanto é importante que saibam que os sintomas podem ser confundidos com outros problemas e é importante que antes de alterar hábitos alimentares por ter sintomas como diarreias frequentes, distensão abdominal, produção exacerbada de gases, perda de peso, alterações de humor e cansaço persistente contacte com o seu médico e nutricionista a fim de despistar outros problemas.

É sempre uma boa ideia comer mais alimentos naturais, não processados, como os frutos, oleoginosas, leguminosas e verduras, esses são isentos de glúten. O glúten é comumente utilizado como aditivo para dar estabilidade e textura a alguns produtos processados. Para compensar a sua falta utilizam-se muitas vezes outros aditivos, acrescentam-se gorduras saturadas, açúcar e sal. Devemos ter em mente que não é por ser isento de glúten que um alimento é saudável. Muitas versões sem glúten dos produtos industrializados, como o pão e bolachas, normalmente não têm um perfil nutricional melhor do que o original, estudos demonstram exatamente o contrário.

Aprenda a ler rótulos e não compre alimentos sem glúten mais caros se não precisa mesmo que seja isento de glúten. É comum existirem alimentos que não têm glúten por natureza, como o arroz, serem comprados a preço mais elevados por dizer na embalagem que não contém glúten, sem razão de ser. Procure informação com um nutricionista de confiança.

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